Valor representa 21,2% do total disponibilizado pelo programa social
O Banco Central (BC) divulgou ontem que beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões com empresas de apostas eletrônicas, as chamadas bets, via Pixs no mês de agosto.
Segundo a nota técnica do BC, esse valor representa cerca de 21,2% do total de R$ 14,12 bilhões disponibilizados pelo Governo Federal a cerca de 20,7 milhões de pessoas no mesmo período.
O levantamento foi feito a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM), que pretende pedir à Procuradoria-Geral da República (PGR) que entre com ações judiciais para retirar do ar as páginas das casas de apostas na internet até que elas sejam regulamentadas pelo governo federal.
Segundo a análise técnica do BC, cerca de 5 milhões de beneficiários fizeram apostas via Pix dos quais 70% são chefes de família.
As apostas tiveram gasto médio de R$ 100 tanto em eventos esportivos como jogos em cassinos virtuais, enquanto o valor médio do benefício no mês ficou em R$ 681,09.
Como se não bastasse, o volume apostado pelos beneficiários do Bolsa Família pode ser maior. Os dados do BC incluem apenas as apostas via Pix, não outros meios de pagamento como cartões de débito e de crédito e transferência eletrônica direta (TED).
O levantamento, no entanto, só registrou os valores enviados às casas de apostas, não os eventuais prêmios recebidos.
O BC também estimou o valor mensal gasto via Pix pela população em geral nas apostas eletrônicas. O volume mensal de transferências para as bets variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões.
Somente em agosto, o gasto somou R$ 20,8 bilhões, mais de dez vezes o valor de R$ 1,9 bilhão arrecadado pelas loterias oficiais da Caixa Econômica Federal (CEF). As transferências via Pix para apostas triplicaram desde janeiro, crescendo 200%.
Preocupação
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, manifestou preocupação de que o comprometimento da renda, principalmente de camadas mais pobres, com as bets prejudique a qualidade do crédito, por causa de um eventual aumento da inadimplência.
“A correlação entre pessoas que recebem Bolsa Família, pessoas de baixa renda, e o aumento das apostas tem sido bastante grande. É uma coisa que chama atenção e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta”, comentou Campos Neto.
Na semana passada, o Ministério da Fazenda anunciou a suspensão das bets que não tiverem pedido, até 30 de setembro, autorização para operar no país. Na ocasião, o ministro Fernando Haddad comentou que o país enfrenta uma pandemia de apostas on-line.
“[A regulamentação] tem a ver com a pandemia [de apostas eletrônicas] que está instalada no país e que nós temos que começar a enfrentar, que é essa questão da dependência psicológica dos jogos”, disse Haddad.