Parceria público-privada reforça projeto para produção de biodiesel renovável e SAF com coquinho tupiniquim
Daniel Azevedo DuarteAgrofy NewsEditor-chefe do Agrofy News Brasil
Desconhecida e até desprezada, a fruta de uma palmeira nativa do Brasil desponta para construir um futuro brilhante ou, no mínimo, já bilionário.
Tida como melhor que a soja ou a palma para diversos fins, a indústria da macaúba já firma grandes passos antes mesmo de estar domesticada.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 257,9 milhões para a Acelen implantar um centro de inovação tecnológica, focado em pesquisa sobre a cultura.
O Acelen Agripark vai se focar principalmente no alto poder energético da macaúba, também conhecida como bocaiúva, macaíba, coco-babão e coco-de-espinho, entre tantos “apelidos”, que está presente em regiões tropicais e sub-tropicais do país.
O investimento do banco público soma-se aos R$ 15,3 bilhões de empreendedores árabes que visam, inicialmente, produzir em larga escala diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF).
Mas isso não é tudo. Segundo estudos, a espécie rende até sete vezes mais óleo por hectare do que uma planta de soja, principal commodity de exportação do Brasil, e também tem diversas aplicações.
O óleo serve para consumo humano e para a indústria química, de cosméticos e de combustíveis. Já a farinha é rica em proteína e pode ser incorporada à dieta humana e de animais de companhia e produção.
Além disso, suas fibras podem ser usadas para cordas e tecelagem e a casca do coco da macaúba virar biochar – tipo de carvão vegetal que sequestra carbono e corrige o solo.
O projeto permitirá o desenvolvimento de novas mudas de macaúba e a seleção dos maciços com maior potencial de produção de óleo e estruturação de banco de germoplasma.
“Ao financiar o primeiro projeto de SAF no Brasil, o BNDES, no governo do presidente Lula, mantém sua contribuição relevante para transição energética, incentivando iniciativas que tenham impacto social, ambiental e desenvolvimento tecnológico”, afirma o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Unidade
Os recursos do Programa BNDES Mais Inovação permitirão construção do novo centro tecnológico para domesticar a planta em Montes Claros (MG). A partir daí, o projeto prevê a produção de diesel renovável (RD – renewable diesel) e combustível sustentável de aviação (SAF – sustainable aviation fuel).
O centro de inovação será responsável por toda pesquisa e desenvolvimento necessários para suportar o projeto da biorrefinaria de combustíveis, que fica em Mataripe (BA).
A estrutura terá capacidade de germinação de 1,7 milhão de sementes por mês e produção de 10,5 milhões de mudas da planta por ano. A localização foi escolhida por possuir boa infraestrutura e ser próxima dos maciços naturais de macaúba.
Na operação da nova unidade, está prevista a criação de 240 novas posições de trabalho.
“Com essa iniciativa, o Brasil dá um passo importante para se tornar um grande produtor de combustível sustentável de aviação e se colocar no mundo como um líder da transição climática”, afirma a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa.
A iniciativa tem ainda outra vantagem. A palmeira da macaúba é bastante adaptável a terras degradadas. A expectativa é recuperar até 180 mil hectares em Minas Gerais e na Bahia.
Além disso, 20% da produção total dos combustíveis serão oriundos da agricultura familiar, beneficiando mais de dez mil famílias em sua área de atuação.
Usina da Acelen
O centro de inovação tecnológica faz parte de um projeto integrado da Acelen com investimento total estimado em US$ 2,7 bilhões.
A projeto prevê produção de 20 mil barris/dia de combustível renovável, captura de quase 60 milhões de toneladas de CO2 equivalente e geração de mais de 90 mil empregos.
Para o CEO da Acelen, Luiz de Mendonça, o Acelen Agripark reforça todo o potencial da inovação agroindustrial do país, o que tornará a empresa uma das grandes produtoras de combustíveis renováveis do mundo.
“Nascemos com o propósito de participar ativamente e acelerar a transição energética global, e agora, apostamos fortemente no agro. Em um ecossistema robusto e integrado formado por uma equipe altamente qualificada e parceiros experientes, vamos oferecer ao mundo uma solução viável e inovadora, sustentável de ponta a ponta”, ressalta o executivo.