A divisão da Síria cria uma fronteira de fato entre Israel e Turquia, garantindo uma guerra mais ampla no Oriente Médio

Um Plano para Orientar Todos:

A fragmentação da Síria e do Iraque em regiões etnicamente ou religiosamente homogêneas é um dos principais objetivos de Israel. A curto prazo, a desestabilização do poder militar desses países é considerada crucial. A desintegração da Síria seguirá suas divisões étnicas e religiosas, conforme descrito por Oded Yinon em “Uma Estratégia para Israel nos Anos 80”.

As forças armadas israelenses avançaram a apenas 24 quilômetros de Damasco, capital da Síria, ocupando vastas áreas no sul do país, onde planejam estabelecer postos de controle e assentamentos. Essa invasão relâmpago foi acompanhada por uma intensa campanha de bombardeios que destruiu bases militares e depósitos de armas, comprometendo a capacidade da Síria de se defender ou restaurar sua soberania. De fato, a Síria, como nação, está em processo de desaparecimento, com constantes ataques de adversários externos contribuindo para sua fragmentação.

Enquanto isso, as forças dos EUA, na fronteira com a Turquia, iniciaram a construção de uma base militar em Kobani, com o intuito de provocar um confronto entre a milícia curda apoiada por Washington e o Exército Nacional Sírio, aliado à Turquia. Essa situação é arriscada, aumentando a possibilidade de um conflito entre dois membros da OTAN no nordeste da Síria.

De acordo com informações, os EUA estão estabelecendo uma base militar para apoiar o YPG, a ala síria do PKK, que enfrenta pressões do Exército Nacional Sírio desde a queda do regime de Bashar Assad. Caminhões americanos transportando materiais de construção chegaram à região, indicando o avanço da base em Kobani, onde os EUA também transferiram veículos e equipamentos militares.

O PKK é considerado um grupo terrorista pela União Europeia, EUA e Turquia, sendo responsável por milhares de mortes na Turquia. Durante a guerra civil síria, os EUA enviaram apoio militar ao YPG sob o pretexto de combater o Daesh, mas a Turquia considera o YPG/PKK uma ameaça, equiparando-o ao Daesh.

O apoio dos EUA aos curdos visa garantir o acesso aos recursos petrolíferos da Síria, reforçando a estratégia israelense na região. Israel vê os curdos como aliados naturais em sua luta contra o Irã e outros países que se opõem à independência curda. Recentemente, a Administração Autônoma do Nordeste da Síria firmou um acordo com uma empresa petrolífera americana para desenvolver os campos de petróleo na região, o que despertou a preocupação da Turquia.

A Turquia tem sido rigorosa em suas operações militares contra as SDF, percebendo-as como uma ameaça ao seu território. A questão do petróleo é central para a influência turca na região, e tem havido uma crescente tensão entre Israel e Turquia em relação à situação síria.

O relacionamento conturbado entre esses países está se intensificando, especialmente à medida que a Turquia busca consolidar sua presença na Síria. Embora Israel evite a ocupação de capitais árabes, a manutenção de sua segurança é prioridade, levando a um cenário onde os conflitos de interesses entre turcos e israelenses podem se acirrar.

A recente declaração de Ahmed al-Sharaa, líder do grupo Hayat Tahrir al-Sham, pedindo que os EUA pressionem Israel a se retirar de áreas estratégicas, reflete a complexidade das alianças e rivalidades na região. As tensões entre os jihadistas e Israel podem resultar em um confronto mais direto, especialmente se a Turquia aumentar sua influência militar.

Diante desse panorama, a possibilidade de um confronto militar entre Israel e Turquia se torna mais plausível, com os dois países posicionando tropas em áreas diferentes na Síria. O desejo da Turquia de exercer controle sobre a Síria, especialmente em relação aos curdos, pode intensificar as hostilidades, enquanto Israel busca garantir sua segurança.

Nesse contexto, a perspectiva de um conflito entre as três potências mais belicosas da região — Israel, Turquia e EUA — parece inevitável, à medida que suas agendas concorrentes se chocam em um cenário já volátil. A questão que permanece é se há formas de evitar uma catástrofe iminente.

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